Transições Ecológicas — introdução

a necessidade é urgente e a ação é para ontem

Jornada Zero Waste
5 min readMay 20, 2020

Prólogo: acho importante falar do que venho estudando desde segundo semestre de 2019, dentro de uma linha de pesquisa denominada Transições. Eu fundei o termo transições ecológicas empiricamente, quando fundei o primeiro espaço Desperdício Zero (zero waste) do Brasil, conforme entendia, cada dia melhor, em contato com muitas pessoas, que não conseguimos fazer mudanças bruscas e radicais, da noite para o dia, é um processo emocional antes de tudo, justamente porque lutar contra a estrutura posta, feita para descartar e destruir, é uma reinvenção de caminhos que gasta muita energia, tempo e dinheiro (dependendo do contexto).

Naquele caso, minha proposta para o espaço era produzir transições de base ecológica, pois, o contexto desenhado era discutir o processo de consumo de cada um, com o fim de produzir uma migração/transição desta atividade para cadeias produtivas que tivessem comprometimento com a vida e com a natureza de forma primeira.

Essas cadeias produtivas também eram reveladas através das informações de procedência, forma como o produto é feito, como eram produzidos, quais ingredientes e matérias-primas eram necessárias, além da produção estar ligada a grupos majoritariamente de mulheres, senhoras com doenças mentais, cooperativas de travestis, com a sustentação de uma mudança sociotécnica, com mudança de rótulos, embalagens e materiais.

Assim, naquele decorrer, juntei o termo transição, por ser uma pessoa muito próxima de estudos e produtos advindos da agroecologia, e entender que famílias de camponeses sofrem o processo de transição da agricultura tradicional para agroecológica, e esse termo, quem estuda agroecologia ou está no campo usa muito — transição para agroecologia, e também por entender que nosso cabelo passa por uma transição quando mudamos o xampu líquido pelo xampu sólido, ou quando passamos por transição ao trocarmos o desodorante químico pelo desodorante natural, ou também, transições para o veganismo e tantas outras.

eu com a queridíssima Thaís Itaqui em março de 2019, para o programa Cidades e Soluções da Globo News.

Essas transições ocorrem tanto no campo das ideias, fisiologicamente (xampus, por exemplo) e também materialmente, e todas elas se observarmos bem, são transições de base ecológica, pois, conseguem produzir uma relação do ser humano com a natureza mais respeitosa do que a posta pelo sistema vigente. E o termo fez total sentido pra eu conseguir explicar o que estava se passando naquele projeto tão pessoal e profundo.

Então, quando eu estava dando uma entrevista para o Cidades e Soluções, ao invés de eu falar que estávamos promovendo soluções sustentáveis, como eu corriqueiramente fazia, naquele momento o termo TRANSIÇÕES ECOLÓGICAS foi dito publicamente, mas o termo considero um download da biblioteca universal, claro que construído de uma vivência muito profunda, na práxis, na experiência cotidiana e dedicada 100% ao projeto!

Desde de então adotei o termo e passei a buscar muito na internet durante meses e anos sobre o termo. Não existia nenhum tipo de pesquisa no país sobre isso. Achei um estudo acadêmico da UFRGS que falava sobre crianças em abrigos e o termo transição ecológica era utilizado do ponto de vista do desenvolvimento humano quando estas crianças sofriam com as mudanças entre famílias e abrigos.

Fora isso, nenhum estudo estava tratando sobre Transições Ecológicas, nem dentro e nem fora do Brasil. E isso até hoje, pois, monitoro o termo constantemente. Apesar de agora, ver este termo ser dito por muitas pessoas na internet. E isso é um tanto de maravilhoso e incrível.

Também mudei o nome do meu instagram e passei a investigar profundamente o assunto, mesmo sem pistas!

Passei a buscar sobre o termo na literatura acadêmica gringa e achei algo que vislumbrava ser o que se tornou meu objeto de estudo:

como toda a sociedade pode fazer uma transição de base ecológica? É possível promover isso?

Foi diante desses questionamentos cheguei à Teoria das Transições.

Teoria da Transições

Teoria das Transições aborda como problemas sociais persistentes requerem mudanças estruturais para serem superados. Porém, alterar estruturas é lidar com um conjunto arraigado construído historicamente, apoiado por um conjunto de técnicas, uma constelação de poderes, que por sua vez estão incorporados às estruturas econômicas. Essa complexidade é conformada e deformada por atores inter-relacionados em uma perspectiva multi-nível imbricada e não ordenada.

Transições são tratadas e discutidas por diversos autores levando em consideração sua perspectiva multi-nível. Tais abordagens buscam investigar como mudanças transformadoras acontecem, em quais aspectos elas podem ser comparadas, gerenciadas, percebidas, e até mesmo, como é possível trazer à tona uma transição sócio-ecológica.

Dentro do corpo teórico de Transições, Transições para Sustentabilidade, possuem características específicas, por terem seus objetivos e proposições orientados à problemas ambientais persistentes.

É importante ressaltar que os autores que trabalham com as teorias de Transições para a Sustentabilidade estão localizados, ou seja, possuem o viés eurocêntrico de maturidade tanto estrutural quanto ponto de vista da estabilidade política, o que de acordo com a literatura estudada denota certo cenário favorável de atuação para o gerenciamento dessas transições.

Nas periferias do sistema capitalista, tais transições esbarram em um contexto político crítico de instabilidade histórica provocada pelo posicionamento subalterno e dependente que tais países possuem no contexto global do sistema capitalista e as disputas que ocorrem nesses territórios. Contudo, a emergência de nichos (aqueles que podem propor inovações estruturais, os pioneiros) no contexto europeu é completamente distinto da emergência de nichos no contexto latino americano, bem como suas seleções e gerenciamento, se é que venham a ocorrer.

No contexto das Transições, é importante analisar e investigar como se dá a relação entre regime vigente e nichos — que são aquelas configurações com diversos atores que criam e congregam um conjunto de novas práticas, distintas, em contraste com o regime vigente, que por sua vez é a estrutura dominante composta de atores, elementos, agências, técnicas que definem a trajetória corrente, e que portanto, possui um caráter histórico. Claramente nicho e regime denotam recursividade e dialética.

Diversos autores argumentam que historicamente a origem de nichos reside no surgimento de “redes de organizações pioneiras”, “usuários” ou de “movimentos sociais” que deflagram um conjunto de novas práticas, ideias e artefatos, localizados estes às margens ao regime vigente.

Nichos bem sucedidos criam robustez e assim conseguem se ramificar, criar mercados, instituições e influenciar adeptos em escalas cada vez mais radiais e não ordenadas, denotando escala de atuação criando graus de institucionalização.

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